GOSTO DA VITÓRIA
Numa certa manhã decido fazer tudo de novo. Sento com outro amigo louco e compartilho as novas ideias. Ele, mais que depressa aceita, dá a maior força e fala a palavra mágica – “tamo junto” – o que significa afirmar que vai começar tudo novamente. O terceiro amigo louco, uma amiga na verdade, apenas sorriu assentindo.
Nos próximos dez minutos, montamos aquilo que seria a presentado e pela qual ensaiaremos os próximos seis meses. Era início de Maio e pouco sabíamos da receptividade e capacidade do grupo que treinaríamos. Mas o que importa? Estávamos dispostos a enfrentar toda e qualquer dificuldade para alcançar nosso objetivo – o aplauso. Aquilo que nos faz acreditar no futuro como algo a valer a pena. Aquilo que separa um adolescente de quinze anos e seu mundinho das belezas de uma vida cheia de vitórias as quais só alcançamos com muita garra, inteligência e determinação.
Talvez a escolha dos novos amigos tenha sido a parte mais difícil, pois eram mais interessados com capacidade de realização que vagas no que prometia ser um grande espetáculo. Deu-se a conhecer a seleção. Quem sabe, pela primeira vez, ficaram frente a frente com uma das inconformidades da vida. Sempre seremos e estaremos participando de seleções, mas a deles, era a primeira e a mais chocante.
Indisciplina, emoção, ideias, falta de comprometimento, risos, hormônios aflorados, tudo precisou ser canalizado e alinhado dentro do caminho estreito que levava ao sucesso. Sei o quanto foi penoso a eles, pois senti na pele a dor da responsabilidade por tudo aquilo. Sentia como se conduzisse um trem que havia partido e chegaria à próxima e já anunciada estação. Se aguardados por uma multidão ou, simplesmente, por amados parentes, é que seriam elas.
Os dias passavam com uma pressa desleal. A segunda-feira encostava no sábado como se fossem conhecidos vizinhos de calendário. Pressão, muita pressão foi o que sentiram. De melhor amigo passei a ser algoz implacável abortando compromissos dos mais diversos e dando broncas... muitas broncas. Quando na segunda metade dos dias percebi que o dinheiro arrecadado não cobriria os custos compartilhamos juntos cada minuto de aflição, afinal, tudo aquilo só valeria a pena se apresentado na totalidade do brilho programado. Novas ideias e tantas outras soluções ajudaram, juntos com patrocinadores comprometidos com a nobre causa mesmo sem entender direito o que aconteceria, no afastamento desse fantasma que desejava resumir tudo numa apresentação de quadra escolar, mas vencemos.
Ante véspera e só aí cada um passou a entender o tamanho da nossa loucura. Uma estrutura cara e imponente de luz e som colocaria cada esforço no mais alto grau de profissionalismo. Éramos amadores querendo mostrar nosso esforço extremo... e conseguimos.
Talvez a surpresa de muitos também tenha sido a surpresa dos próprios participantes, afinal, até ali somente eu conseguia entender cada pedacinho do que seria mostrado, pois tudo estava na minha cabeça e os ensaios eram feitos em horários diferentes de forma a não deixar que ninguém entendesse como funcionaria tudo depois de pronto.
A comunidade comprou nosso esforço; meus amigos loucos tiveram a paciência de suportar minha chatice; uma escola moderna foi tolerante ao extremo com aquele invasor que a todo tempo fosse manhã, tarde ou a noite, permanecia na escola.
Foi um grande espetáculo. Meu, foi só o sonho, pois o aplauso sempre pertencerá a todos os 120 alunos que acreditaram, viveram e souberam entender que ali estava a alma da “poesia rara, porque feito poeira acompanhando o vento... Onde houver poesia sempre haverá sentimento”.
Muito obrigado a todos.
Luciano Esposto é poeta e escritor venceslauense.
fonte toninho moré :
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