COLUNA CULTURAL
Por Francisco Gonçalves
Por Francisco Gonçalves
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O venceslauense Boni, trabalhando n a pintura do novo Jujubinha |
“Acredito que o espaço para esta reflexão tem me ajudado muito, principalmente por ampliam minha curiosidade por alguns temas e ampliar minha percepção sobre os desafios nas políticas públicas de cultura. Agradeço a todos que tem ajudado nesta construção, que posso afirmar ser coletiva, pois a indicação de temas me levou a fazer algumas visitas para ouvir artistas e pessoas que compõe a cadeia produtiva da cultura, além da abertura para estudar novos temas. Tem me ajudado muito na minha formação como a construção de um novo projeto para minha vida. Hoje posso dizer que optei por viver em Presidente Venceslau e aqui quero viver.
Tenho andado muito pela cidade, me apaixono todos os dias pela luta do nosso povo, assim como tenho ouvido histórias e nossa miscelânea cultural. No ultimo ensaio, o Sander me perguntou sobre uma marca da nossa gente. Sinceramente Sander eu não consigo encontrar este ponto comum, talvez fosse necessário uma pesquisa mais profunda, que iniba um chavão que diz “nossa cidade não tem cultura” é uma observação falsa e contraditória, que atrai um sentimento muito ruim de negar nossa própria cultura.
Comecei a perceber esta negação no convívio com jovens, foi quase uma auto analise, que demorei para entender, mas segue um caminho que eu mesmo percorri, quando optei por sair da cidade, ainda com 15 anos, já me sentia excluído de um processo cultural único e midiático, tudo o que lia nos jornais, ouvia falar e ouvia nas rádios não tinha sinergia ou identidade, naquele período gostava de ouvir Racionais, Chopin e Cidade Negra, li em 1994 “A divina comédia humana” e já participava da primeira peça de teatro no Álvaro Coelho, montada pela professora Cleideomar . Naquele momento começava a criar uma identidade cultural que não combinava com uma cidade que tem alimentado por muito tempo uma auto-imagem de ostentação e exclusão.
Sentia na década de 1990 uma cultura característica para o século XX, que acreditava numa prometida industrialização, que permanece até hoje, com base econômica no consumo dos servidores públicos, uma gestão pública com amarras políticas profundas, problemas de infra estrutura básica, como a falta de tratamento de esgoto, e tudo isto se reflete na cultura, ainda consumimos apenas a cultura que chega pela televisão, ainda lemos apenas noticias de violência, vivemos dentro de casa cercados por uma pseudo insegurança.
Um grande amigo e musico Gerbes Aguiar tem me ajudado muito numa reflexão sobre o quanto ainda usamos mau o nosso tempo livre. Vivemos para o trabalho e no nosso tempo livre, ainda insistimos em falar de trabalho ou adiantar trabalho atrasado. Esta é a características do homem moderno, que alimenta preconceitos e trata diferenças como torcida de futebol, se não tem minhas características é do outro time.
Queridos amigos e leitores, hoje nós vivemos numa sociedade do “Bem estar” e “pós industrial”, estamos na era da internet, com informações rápidas e baratas, não precisamos mais de geradores de conhecimento e gosto, a busca por qualidade de vida é maior preocupação do mundo, também vivemos na “era das liberdades” com liberdade para criação, onde a economia que mais cresce no mundo é a ligada às cadeias produtivas da cultura, criatividade e nos países em desenvolvimento como o Brasil, também destaca as cadeias produtivas ligadas a educação e saúde, com o novos modelos profissionais e de prestação de serviço, cada um pode criar seu negócio com um computador e boas idéias.
Optei por fazer esta reflexão hoje, pois volto a insistir que Venceslau é uma cidade linda, com problemas de desigualdade de oportunidades, pois quando visitei a família de um jovem que foi aprovado pelo conservatório musical de Tatuí, que mora na Morada do Sol, me perguntei se ele ficasse aqui qual oportunidade daríamos para ele. No máximo tocar um instrumento em troca da cerveja nos bares da cidade, cobrando dele oito horas de trabalho árduo para ser alguém na vida prometendo um sucesso que não viria.
Acredito que podemos optar por uma cidade que busca evoluir, ou seja, busca por ampliar as oportunidades, descentralizar ações e planejar nosso futuro, olhando para o passado e o que já construiu, pois não são poucas as histórias de resistência cultural na nossa cidade, quando vejo o “Seu Cido” que por 19 anos, junto com o “Moretti”, levam a frente o projeto “Recanto da Viola”, mesmo sem qualquer apoio, muitas vezes até investindo dinheiro próprio ou sua margem de lucro para manter um espaço de violeiros, me pergunto onde esta o valor a cultura e tradição sertaneja de nossa cidade, outro exemplo é o descuido visível na fachada do casarão do Álvaro Coelho.
Esta é uma mudança conceitual da relação da nossa cidade com nosso patrimônio cultural e produção cultura própria, precisa ser uma luta com mais gente, para sairmos do século XX e garantir geração de empregos na área entretenimento, construir parques e organizarmos festivais de cultura, que alimenta a economia e a alma. Vejo isto quando converso com o Jeferson cabeleireiro, com o coletivo de tradição nordestina “Companhia do Bailão”, que tem conquistado espaço e garantido renda para um grupo de pessoas que trabalham em seus eventos regionais.
Precisamos da visão como do artista plástico Boni para colorir nossa cidade, ganhar esperança com novos rumos, com alegria, com inclusão. Uma cidade de todos e cidadã, com pés no século XXI. Acredito que esta é a encruzilhada do momento. Tenho trabalhado por isto, como sinto muita gente com caminhadas longas neste sentido. Não desanimem. Somos diversos e nossa marca comum pode ser a busca por dias melhores, de melhor convivo, mais liberdade e mais felizes.
O que acham de construirmos juntos uma coluna sobre personagens da cultura local que precisam ser “desescondidas” ? Para participar mande sugestões pelos comentários, e-mail, in Box pelo facebook, parar na rua e comentar, sinal de fumaça ou recadinhos. Tâmo junto”.
Francisco Gonçalves, venceslauense que escreve a coluna cultural toda terça-feira
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