sábado, 12 de outubro de 2013

Investigação do Ministério Público mapeia crime organizado no Brasil

Escutas telefônicas revelam que criminosos negociavam drogas e armas e determinava morte de autoridades como Geraldo Alckmin.


Megainvestigação do Ministério Público comprovou que a cúpula de uma facção criminosa que age dentro e fora dos presídios de São Paulo negociava drogas e armas, planejava a libertação de presos e ainda determinava a morte de autoridades, como a do governador de São Paulo Geraldo Alckmin.
A investigação começou em março de 2010 e terminou em janeiro deste ano. Os promotores de justiça reuniram escutas telefônicas que comprovam que a facção criminosa que age dentro e fora dos presídios do estado de São Paulo é comandada por telefone, de dentro da penitenciária dois de Presidente Venceslau, no oeste do estado.
Segundo o MP, a organização criminosa controla 90%das unidades prisionais do estado. E tem como chefe principal Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Pela primeira vez, ele foi identificado em uma escuta em que diz ser o responsável pela redução de homicídios no estado. Numa gravação Marcola conversa com Magrelo, integrante da facção.
Magrelo
Sabia que esses caras tinha que te agradecer porque você deixou a maior paz aí. Já pensou se tivesse crack, esses negócio na cadeia... Como que ia tá? Eles ia pedir seguro toda hora...
Marcola
Ô irmão... Sabe o pior o que é? É que hoje... Há 10 anos atrás todo mundo matava todo mundo por nada... Hoje pra matar alguém é a maior burocracia.., quer dizer: os homicídio cai não sei quantos por cento, aí eu vejo o governador chegar lá...
Magrelo
Deixa eu só falar uma coisa pro cê...
Marcola:
...e falar que foi ele.
Magrelo
As estatísticas aí ó, tão falando que a criminalidade diminuiu em São Paulo. Os homicídio caiu mas não foi eles (governo). Foi o pessoal (criminosos) que causou isso daí.
Marcola
Mas a polícia sabe disso
Segundo o Ministério Público estadual, uma das escutas feitas com autorização da justiça revelou que a facção criminosa chegou a decretar a morte do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Na escuta, dois integrantes conversam.
LH
Depois que esse governador entrou aí o bagulho ficou doido mesmo. Você sabe de tudo o que aconteceu, cara, na época que nois decretou ele (governador), então, hoje em dia, secretário de segurança pública, secretário de administração, comandante dos vermes (pm), estão todos contra nois.
O Ministério Público de São Paulo afirma ainda que a organização também usa o celular para  negociar drogas, principal fonte de dinheiro para a compra de armas.
O Ministério Público pediu a prisão de 175 integrantes da facção, mas o pedido foi negado pelo juiz de Presidente Venceslau. O MP recorreu da decisão no Tribunal de Justiça em São Paulo.
A investigação do Ministério Público de São Paulo foi reportagem do jornal O Estado de São Paulo desta sexta (11).
A reportagem diz que as provas permitiram a construção de um retrato inédito e profundo da maior facção criminosa do país. De acordo com o Estadão os promotores conseguiram também documentos, depoimentos de testemunhas e informações sobre apreensões de centenas de quilos de drogas e de armas.
A organização criminosa, diz o jornal, está presente em 22 estados do país e em mais dois países: Bolívia e Paraguai.  E fatura cerca de R$ 8 milhões por mês com o tráfico de drogas.
Ainda segundo a reportagem o grupo tem um arsenal de cem fuzis em uma reserva de armas e R$ 7 milhões enterrados em sete imóveis adquiridos pela facção.
 
Para conseguir fazer o maior mapeamento, a maior investigação da história do crime organizado no país, foi preciso trabalhar muito e junto. Tanto que a denúncia do ministério público estadual. Foi assinada por 23 promotores de justiça de todos os Gaecos de São Paulo, Grupos de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo divulgou uma nota dizendo que a afirmação de um dos chefes da organização criminosa sobre a queda dos homicídios no estado e sobre a decretação da morte do governador é “uma fanfarronice típica de marginais. Dar crédito a elas beira o absurdo".
A Secretaria de Administração Penitenciária do São Paulo disse que pediu a internação de 35 presidiários do Centro de Readaptação de Presidente Bernardes para o regime disciplinar diferenciado,o RDD, mas o pedido foi negado pela autoridade judiciária. Nós entramos em contato com o Tribunal de Justiça que ainda não nos respondeu.
Procuramos também o advogado de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Roberto Parentoni informou que ainda não teve acesso ao conteúdo da denúncia feita pelo Ministério Público estadual contra seu cliente, e que, por isso, não pode se pronunciar.  Marcola está preso na penitenciária dois em Presidente Venceslau no interior de São Paulo desde 2006.
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