sábado, 14 de junho de 2014

Itaquerão padrão "Pifa" passa no teste

Houve queda de energia em alguns setores, dificuldades para comprar comida e outros problemas, mas a Arena Corinthians se sai bem como palco da abertura da Copa do Mundo no Brasil

O Itaquerão na abertura da Copa do Mundo (Foto: Julio Cortez/AP)

A piada que corria entre alguns presentes na abertura da Copa do Mundo era que a Arena Corinthians, o Itaquerão, não estava no padrão Fifa, mas sim no padrão “Pifa”: a iluminação pifou, a internet pifou, o atendimento nas lanchonetes pifou, a descarga dos banheiros pifou. Como muitas verdades costumam ser ditas em brincadeiras, o chiste tem razão de ser.
O Itaquerão surpreendeu de modo positivo a muita gente que esperava uma hecatombe na abertura da Copa do Mundo do Brasil. Há uma semana, parecia que o estádio não estaria pronto a tempo. Camarotes repletos de tapumes, arquibancadas provisórias construídas a toque de caixa, esquemas caóticos de chegada e saída de torcedores. Tudo isso era um sinal de alerta para o estádio menos testado  para receber um Mundial desde a Copa de 1990 – o estádio Delle Alpi, estádio de Turim construído para o Mundial, teve seu único teste oito dias antes da Copa. A organização foi bem na entrada dos torcedores, policiamento e informações. No lado externo, antes da partida, o cenário foi tranquilo: apenas ambulantes credenciados trabalhavam, cambistas não apareceram e não houve incidentes graves. Ao contrário dos eventos-teste, o acesso ao estádio foi rápido, trens e metrôs funcionaram com precisão londrina, e o trânsito nas imediações do estádio estava bom.
Mas Deus está nos detalhes – e neles o Itaquerão foi mal. Chegar ao estádio foi mais fácil do que conseguir comprar um refrigerante, uma cerveja e comida. A comida que deveria abastecer os mais de 60 mil torcedores tinha de passar pelo controle de segurança, retardando a distribuição para os bares. Vários deles funcionaram abaixo da capacidade de funcionários e ofereceram apenas chocolates e refrigerantes. Desde às 15h, já não havia mais comida na lanchonete. Mesmo assim, cardápios gigantescos mostravam hambúrgueres, salgadinhos e outros petiscos. O resultado: muita gente enfrentou meia hora de fila para descobrir, ao chegar ao balcão, que não havia nada para comer.
O resultado: filas enormes para comprar qualquer produto. Antes do jogo, conseguir uma bebida levava, em média, 30 minutos na lanchonete. Muitas pessoas perderam o começo da partida para comprar produtos. Antes e durante o jogo, a grande maioria dos carrinhos de bebidas usados para desafogar as lanchonetes principais estava vazia, com os atendentes de braços cruzados ou mexendo em seus smartphones. Ao menos os atendentes não tiveram dificuldade com a internet – ao contrário dos torcedores. As redes 3G e 4G apresentaram falhas. O sinal ficou instável ou não existia, impossibilitando os torcedores de usar redes sociais ou publicar fotos e vídeos.
Um dos problemas mais graves aconteceu com a bola rolando. Aos 13 minutos de jogo, uma oscilação no fornecimento de energia fez a iluminação de metade dos setores Leste e Norte cair. Como a tarde caía e a noite não havia chegado, a interrupção não atrapalhou o jogo. Outros setores do estádio também apresentaram oscilações no fornecimento de energia: os lounges e o setor destinado aos chefes de Estado tiveram rápidas quedas na iluminação.
O deslocamento dentro do estádio deixou a desejar. Desde a abertura dos portões, os 62.600 torcedores que chegaram encontraram muita confusão na distribuição de setores. Sem divisões claras, a área VIP, os lounges e a área de mídia apresentaram problemas no campo da identificação. Em muitos casos, os seguranças permitiram o trânsito livre de torcedores pelos setores, com ocasionais checagens de credenciais.
Conseguir informações, em muitos casos, foi um sufoco. Apesar de solícitos e bem-intencionados, muitos voluntários tinham dificuldade com idiomas. “Eu não tenho obrigação de falar francês”, disse uma voluntária revoltada com um grupo de torcedores que sequer arranhavam o inglês. A incapacidade de se expressar no idioma de Shakespeare não era privilégio dos turistas. Vários voluntários derraparam no inglês. “No elevador. Turn there and up”, disse uma voluntária, tentando explicar a um torcedor japonês que o elevador estava quebrado e ele deveria virar à direita e subir cinco lances de escada. Os elevadores, aliás, deram problemas. O maior deles foi não conseguir dar conta do fluxo de pessoas, formando imensas filas. Alguns convidados do setor VIP precisaram subir vários andares de escadas.
O problema mais grave foi de um grupo de torcedores que ficou sem assento na fileira N do setor 423. O grupo se surpreendeu ao perceber que naquele degrau não havia cadeiras, apesar de integrar a “categoria 1", a mais cara das arquibancadas. Cada ingresso custou R$ 990. Sem cadeiras, teve gente que se sentou no chão. De acordo com a Fifa, esses lugares não deveriam ser vendidos, e a organização conseguiu realocar os torcedores em outras cadeiras da mesma categoria ainda antes do início do jogo.
Com a bola rolando, o Itaquerão padrão "Pifa" mostrou-se um estádio com ótimas condições de visibilidade do campo para a torcida, excelente acústica e gramado perfeito. A Arena Corinthians ganhou elogios até do técnico da Seleção Brasileira, Luiz Felipe Scolari.
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